Há 15 dias

Há cerca de quinze dias, inauguramos uma nova temporada. A renovação das esperanças, o florescer das expectativas, o fervor e a entrega, todos nós, nesta assembleia, nos apresentamos para contribuir e crer. A nossa equipa principal de futebol profissional, como é sabido, perdeu alguns dos seus ativos valiosos, mas, no entanto, procuramos adquirir, entre os novos contratados, talentos nos quais depositamos fé e que pretendemos moldar, com zelo, para o que antevemos ser um campeonato notoriamente mais exigente e árduo que o anterior. Nossos objetivos, tradicionais e imutáveis, resumem-se à conquista de todas as vitórias, sem exceção, na busca dos troféus e da glória, seguindo o legado que nossa história nos confiou desde 1906. Em suma, hoje e sempre, o Sporting será conduzido pelo esforço, pela dedicação, pela devoção e pela glória.

As pré-temporadas tornaram-se quase tão cativantes quanto o próprio campeonato, desculpem-me o exagero. A mídia desportiva contribui para esse espetáculo. Logo após o término de uma época, enquanto os canais de comunicação têm a tarefa de manter o interesse e a audiência das transmissões televisivas, somos bombardeados com notícias sobre transferências, interesses dos clubes em jogadores específicos, dispensas, empréstimos e assim por diante. Algumas informações são verídicas, outras nem tanto, e nos vemos mergulhados nesse frenesi até o início dos jogos de preparação para a próxima temporada, quando os jogadores retornam de suas férias. Tudo isso é conhecido como “pré-temporada”. Os clubes, dependendo de seus recursos financeiros e acordos com fundos de investimento, vão ajustando seus elencos e finanças.

Quanto à nossa situação, até o momento em que escrevo estas palavras, em 29 de agosto, três rodadas já se passaram na Primeira Liga, e faltam apenas 48 horas para o fechamento da janela de transferências, que, na minha opinião e de muitos outros, é uma anomalia no futebol profissional. Neste contexto, permitam-me comentar o seguinte:

  • Realizamos oito partidas de pré-época, alcançando cinco vitórias, dois empates e uma derrota. É notável mencionar que vencemos o quarto (Real Sociedad) e o quinto (Villarreal) classificados da Liga espanhola, embora tenhamos sofrido uma derrota contra o Everton, o 17º colocado (em 20) da Premier League Inglesa, em uma exibição que deixou a desejar. São jogos distintos, é claro, com diferentes equipes, onde se experimentam novas táticas e se testam novos jogadores. Nesse sentido, a pré-época foi positiva;
  • Entre as novas contratações, destacam-se Gÿokeres e Hjulmand. No caso do sueco, sua presença e influência notável na equipe já foram observadas, gerando grande entusiasmo entre os sócios, que esperam que ele continue a brilhar. Isso só reforça a convicção daqueles, como eu, que clamaram desde o início da última temporada por um verdadeiro ponta de lança, contra a teimosia de Rúben Amorim. Acredito que, se tivéssemos contratado um ponta de lança no mercado de janeiro, estaríamos agora disputando jogos de acesso à Liga dos Campeões. Quanto ao dinamarquês Hjulmand, cuja contratação também demorou, parece ser outra adição bem-sucedida e necessária. Apenas o tempo dirá o valor que eles realmente acrescentarão à nossa equipe. Espero que ambos justifiquem os valores envolvidos, que totalizam 38 milhões de euros, sem contar com os valores extras por metas alcançadas e os salários individuais. Recentemente, antes do fechamento da janela de transferências, conseguimos contratar Iván Fresneda, lateral direito do Valladolid, por 9 milhões de euros mais 2 milhões por objetivos, em um contrato de cinco anos com as nossas cores. Com base nas informações de especialistas, parece ser outra excelente contratação. Mais uma vez, só o tempo poderá avaliar adequadamente;
  • A renovação dos contratos de Pedro Gonçalves, Nuno Santos e Gonçalo Inácio, realizada em 16 de agosto, representa três importantes aquisições para o nosso plantel, pelas quais devemos aplaudir;
  • Entre as últimas vendas, destaco Chermiti, que se transferiu para o Everton por 12,5 milhões de euros mais 3 milhões em metas. No entanto, se considerarmos sua cláusula de rescisão de 80 milhões de euros, sua idade e potencial de crescimento, essa venda pode não ter sido um bom negócio. A menos que esses recursos tenham sido essenciais para a aquisição de um médio defensivo e de um lateral direito, posições cruciais para equilibrar o plantel e a equipe, prevenindo um desastre semelhante ao da temporada passada. Outras vendas, empréstimos e dispensas parecem ter sido justificados para dar oportunidades aos jovens talentos e aliviar a folha salarial. No caso de Ugarte, a transferência era inevitável e, em minha opinião, foi bem conduzida. No entanto, estou preocupado com as possíveis vendas de Edwards e Inácio, pois poderiam desequilibrar a equipe;
  • Na Primeira Liga, já jogamos três rodadas. Na primeira jornada, enfrentamos o Vizela em casa, vencendo por 3 a 2, com um gol da vitória de Paulinho aos 99 minutos. A primeira metade do jogo nos fez acreditar que estávamos diante de um candidato ao título, enquanto o segundo tempo revelou uma equipe destinada, mais uma vez, ao malfadado quarto lugar da tabela. Esse é o Sporting bipolar que parece se repetir. Na segunda rodada, conquistamos três pontos, com muito esforço, contra o Casa Pia, mas graças a um erro flagrante do VAR que validou o nosso primeiro gol em posição irregular, um dos dois gols marcados por Paulinho

. Foi um jogo que confirmou o bom desempenho de Gyökeres e a estreia de Hjulmand. Na terceira jornada, enfrentamos o Famalicão em Alvalade, mais uma partida complicada em que Paulinho (com um excelente começo de temporada) novamente decidiu o jogo, aliviando a tensão dos 40.000 presentes em Alvalade e de todos os outros torcedores que, em frente à televisão, seguramente roeram suas unhas e sofreram as angústias do jogo. Espero que, contra o Braga, possamos adicionar mais uma vitória, mesmo sabendo que não será uma tarefa fácil, mas acredito que temos a qualidade necessária para triunfar.

Olhando para o calendário e fazendo uma análise apressada, arriscaria dizer que, se o Sporting almeja conquistar o título, não pode, nas primeiras 11 rodadas, ou seja, no primeiro terço da competição, perder mais do que 2 a 5 pontos, o que equivale a conquistar pelo menos 28 pontos nesse período. Qualquer desempenho inferior a esse padrão comprometeria precocemente nossas ambições. Sabemos que o início da temporada pode ser crucial para o desfecho do campeonato. Se conseguirmos esse feito, e eu sinceramente espero que sim, acredito que teremos uma campanha sólida e competitiva.

Todas essas reflexões, devo enfatizar, são de minha única e exclusiva responsabilidade. Não possuo informações privilegiadas, diretas ou indiretas, neste momento, e baseio minhas opiniões no que observo nas transmissões dos jogos, no que ouço nos programas de análise futebolística e no que leio nas manchetes dos jornais desportivos. Naturalmente, nem todos concordarão com minhas opiniões, mas isso é um direito que lhes assiste. Aqueles que estiverem de acordo receberão meu elogio, enquanto as questões que julgar menos resolvidas receberão minhas críticas, sempre com a educação que me foi incutida durante mais de oito décadas de vida. Quanto ao título deste texto, decidir-me-ei pelo mesmo que utilizei no início, como uma solução temporária. Peço desculpas aos meus leitores, pois a falta de um título adequado não deve prejudicar a sua leitura.

Ricardo Aveiro

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